Diálogos - Resquícios de Felicidade
A imensidão da planície áspera de estepe verde. Patrulha sobre a estrada isolada cortando a vastidão insana da planície infinita do pós-vida. A forma plana daquela dimensão provocava a linha de horizonte visível ser muito mais distante do que eles se lembravam de seus mundos esféricos em vida. No horizonte remoto, o veículo do tamanho de um planeta apagado pela distância, parecia parte de uma cordilheira em movimento. Entre as nuvens de fumaça dos seus gigantescos canhões enquanto se alinhavam e se preparavam antes de disparar, os ecos ecoando para sempre a cada disparos. O Gigante de Metal se movia relativamente ligeiro sobre as esteiras de tamanho colossal.
A frente da dupla na patrulha, uma infância se manifestava sobre as marcas da guerra. Um tanque dos inimigos falecido há muito tempo com as queimaduras da explosão que o abriu. A ferrugem do tempo. O canhão levantado, perfeito para o pneu pendurado. Uma criança balançava sem preocupação, sob a supervisão de uns adultos, talvez pais. Impossível ou guardiões. A dupla cumprimentou os civis ao passarem próximos.
O voluntário de bigode da dupla chegou a olhar para trás, nostalgia melancólica. Seu camarada de cabelo comprido notou a tristeza e comentou:
- Também penso como as crianças vivem. Não parece justo.
- Tinha tudo pela frente, mas…Poderia ter a felicidade eterna... Agora só tem guerra… - O voluntário de bigode parou de olhar e focou a frente.
Andaram mais. O voluntário de bigode desabafou:
- Me lembro dos muitos bebês que eu vi aqui, no Paraíso. Quietos e calmos. Como os guardiões da minha religião quando vivo. Precisando de atenção e carinho. Tão frágeis…
Mais ecos dos últimos disparos do Gigante de Metal finalmente chegaram a eles. As enormes nuvens de fumaça cinza já se esbranquiçavam e se dissipavam.
- Como nós somos muito frágeis. - O voluntário de cabelo comprido disse e apontou para o Gigante de Metal. - Uma bomba vindo daquilo e sumiriamos para sempre.
- Acha que uma bomba cairia justo aqui do nada?
- Um erro de cálculo. Um vento mais forte, E a bomba não alcança o Gigante.
O Gigante de Metal disparou mais. Eles acompanharam os projéteis sobrevoar sobre eles enquanto desapareciam no azul do céu. O voluntário de bigode comentou:
- Será que eles lá no Gigante acertaram nos cálculos e não vão acertar nas nossas tropas?
- Talvez há um inimigo escondido ao redor por aqui. - O voluntário de cabelo comprido apontou ao redor. - Somente nós dois, só dois tiros sortudos.
- Nem mesmo no Gigante estaríamos seguros. Este está bem calmo. Devia ter mais bombas tentando atingir ele.
- Uma bomba certeira e nós dois e mais outras zilhões de almas e desapareceremos para sempre.
Os dois pararam de andar e olharam para o Gigante de Metal. Mais disparos avistados e os ecos demorariam a chegar. Eles avistaram a criança ainda brincando no balanço improvisado. O voluntário de bigode suspirou e concluiu:
- Estamos muitos entediados. Demais.
- Culpa daquele pessoal que nos distraiu da nossa patrulha.
- Vamos andar antes que alguém com sorte nos vê primeiro.
Eles riram e voltaram a patrulhar.
Um curto período de tempo. O voluntário com bigode perguntou:
- Eu já contei da minha sobrinha Piscil?
- A de olhos claros? - Seu camarada falou com sorriso no rosto. O bisão resmungou, levantando um pouco a cabeça. - Você contou a ele também.
- Sim. Mas não para o Jeru. - Ele apontou para o lagarto do seu camarada, quem fez um grunhido tímido. Eles riram. A patrulha teve um clima mais agradável.
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