Crônicas do 2º Apocalipse - Noite em Tlanoí

Escrito e ilustrado por Renan Morgado 

            A felicidade de voar sempre a encantava. Podia sentir a velocidade passando em seus olhos. A sensação de enfrentar o poder das duas turbinas gigantes com as suas mãos no manche. O avião caça a jato patrulhava com a dupla para o Colosso aéreo de transporte terminando de passar pelo portal. A piloto comandante da dupla sorriu com a cidade abaixo.

O avião Sukorre e sua dupla deixaram para trás o portal gigantesco de redemoinhos verdes, sustentado pelas duas torres pretas, curvadas e com luzes vermelhas. A enorme cidade abaixo se expandindo a todos os horizontes. A piloto lutou para se manter na missão.

O Colosso aéreo chegaria logo a sua torre portuária de Colossos aéreos.

- Dupla Rai 3-4. Tahkli aqui. Um orfanato está nos visitando. Estão dispostos a se exibirem?

A piloto e a co-piloto do Sukorre Rai-3 riram da ordem exótica.

- Volta a casa abençoada. - A piloto comentou. - Rai-4. Rai-3 aqui. Como está a sua disposição? 

- Rai-3. Aqui é Rai-4. Eu e meu co-piloto confirmam disposição. - O piloto da dupla Sukorre falou pelo rádio. Ambos os monsros daquele avião riram.

- Tahkli. Rai-3 aqui. Disposição para nos exibirmos. - A co-piloto apontou com um sorriso atrás da máscara de respiração.

- Entendido. Pode começar quando quiser.

- Afirmativo. - A piloto moveu o manche para subir de imediato.

Elas duas ouviram pelo rádio o piloto e o co-piloto do Rai-4 rirem e as seguiram.

Liberdade sobre as altitudes, a sombra do Sukorre 3 desaparecida. A zona urbana era uma mancha bege escura sobre o chão, pontuado pelos pontos escuros de prédios-bunkers e os Colossos e Supercolossos abaixo. Estes pareciam brinquedos, iguais quando crianças. 

A velocidade próxima de distorcer o tempo-espaço. A descida dos dois Sukorres girando e rodopiando entre si como os vórtices dentro do portal verde por qual vieram. Chegando próximos a cidade que a piloto reconhecia, a boca aberta em um enorme sorriso.

Os Sukorres subiram a torre em direção ao Colosso deles. Ultrapassaram o topo da torre. O Colosso reconheceu-os e rugiu. As crianças se encantaram com os dois Sukorres perderem altitude e darem as voltas de aproximação como um funil e sincronizados. Pousaram rápido e juntos na pista do hangar que as crianças conseguiam avistar da plataforma na torre.

A Mestre Piloto daquele hangar no Colosso, chamada de Tahkli, levou os visitantes para se encontrarem com a dupla 3-4. O encanto e medo de chegarem perto das enormes máquinas com duas asas enormes quase dentadas como as espadas de monsres, dois pares de asas nas laterais e acima da cauda. Cores escuras. As duas enormes turbinas abaixo das asas. Monsres trabalhadores terminaram de desarmar e retirar os mísseis dos dois aviões.

- Venham, eu não mordo. - A piloto incentivou.

Quando as crianças venceram o medo e timidez iniciais, queriam subir no avião.

- Claro que você vai ser. Eu cresci em um orfanato daqui e visitei um Colosso como você. E também conheci uma grande piloto. - A piloto disse a uma menina sentada na asa, puxando o pequeno chifre, de forma carinhosa. A menina riu e puxou de volta um dos chifres da piloto.

A co-piloto respondeu a pergunta sobre os desenhos infantis na fuselagem do Sukorre. Um Sukorre perseguindo e atirando contra um NiG, avião das almas, e uma família de uma monsra, um monsro, duas crianças, um animal de estimação, um prédio e uma árvore.

- Meus filhos fizeram para mim antes de eu deixar eles em um orfanato daqui.

- Eles ainda estão aqui? - Uma menina perguntou.

- Eles já devem estar bem grandes. Eram gêmeos. E ali está o meu marido. - A co-piloto acenou para um monsro embarcando os mísseis a um caminhão. Ele acenou de volta.

- Você quer alguma coisa? - A piloto perguntou a um garoto que não conseguia olhar para ela.

- Posso abraçar você?

- Claro que sim. - Ela abriu os braços e o carregou em seus braços. Sua língua deu um beijo no rosto dele. As outras crianças riram da vermelhidão no rosto do garoto.


O amanhecer do dia seguinte chegava.

A cidade chamada de Tlanoí. Edifícios baixos de dois a três andares esparramados pelo chão, pintados em cores amarelas, pouco marrom, rosas e beges, raramente telhas completavam as construções, sacadas com janelas e portas de madeira. Multidões de monsres caminhando ou em bicicletas. Trens simples transportando entre as casas. Cristais pendurados em fios pelos edifícios para iluminação noturna.

O bar continuava lotado com a tripulação do Colosso aéreo em recesso. Alarme soou, as luzes de festa se apagaram para a luz normal do edifício, uma mensagem se repetia: “Alerta Carapaça 3-2-7! Isso não é um treinamento! Repito: Não é treinamento!”

A piloto acordou, sentando assustada:

- Emergência… - A dor na cabeça a forçou para trás. Deitada, mãos massageando a testa contra a dor horrível. Cercada de outros monsres reagindo ao alerta. O trem pequeno dentro do galpão ao lado do bar. Ela se impeliu para pegar suas roupas. - Criadora! Onde estão as minhas botas? Querido. Viu as minhas botas?

A co-piloto saiu debaixo de uma escada com seu marido, a cabeça doendo de ressaca. Logo encontrou o piloto da dupla 4 sair de um quarto sem camisa ainda balançante. - Korfo. Viu a Fequa?

- Eu vi ela dançando na pista e não mais. - Ele disse e foi vomitar em um canto.

O co-piloto saiu da 4 saiu de um quarto atrás de uns monsres, terminando de colocar uma calça e levando sua blusa em mãos.

- Fazon. Você viu nossa chefe?

- Vi ela sair com alguém. - Ele tentava se lembrar.

- Talvez nos encontrarmos com ela lá fora. - Ela decidiu e falou com seu marido.

A multidão saía do edifício para o transporte público da cidade.

- Fequa! - A co-piloto reconheceu a monsra sob cuidados de uma médica.

- Kací... - A piloto tocou o ombro dela. Virou o rosto para vomitar em um balde.

A médica aplicou uma injeção no seu ombro e depois no ombro de Korfo.

- O que é o Carapaça 3… - A piloto Fequa tentou se lembrar.

- Algum inimigo está passando pela nossa bunda. - A co-piloto Kací respondeu. - Consegue andar?

- Não… - Ela não conseguiu manter a cabeça de pé. Kací e Fazon a tomaram pelos braços.

A multidão se acumulava na frente do bar. Os pequenos monotrilhos de vagões arredondados passavam tão lotados que não paravam. O marido de Kací conversava com trabalhadores e burocratas do Colosso Aéreo, afirmaram que não teriam transporte em pouco tempo.

- Vamos descansar aqui. - A piloto Fequa disse.

- Melhor eu não dormir nada. - O piloto Korfo falou.

Os quatro pilotos ao se sentarem, se colapsaram. Kací abraçada a seu marido. Fequa se deitou sobre o peito de Fazon.

- Você é um bom travesseiro.

Korfo apoiou as costas e a cabeça sobre o braço e ombro de Fazon.

- Não vou dar ele para você.

Os monsres riram entre todos da força aérea derrotados pela festança.

O co-piloto Fazon desabafou:

- Por Criadora! Vamos voar depois de fazer a multiplicação.

- Não se preocupe. Eu nunca segui a tradição. - Kací e seu marido se olharam, rindo.

Os dois pilotos já revelaram o hábito de ronco. Forte cheiro do álcool e fumaça.

- Eu já perdi a minha sorte. - Fazon reclamou.


A noite se iniciava. Aviões decolavam do porto vertical ou dos Colossos aéreos e terrestres partindo para se distribuírem melhor pela região central de Tlanoí.

O Colosso Aéreo se afastava devagar do porto. Seus rosnando pareciam múrmuros baixos.

- Udorne também está bravo que nossas férias acabaram. - A piloto Fequa comentou com a sua co-piloto Kací, enquanto memorizavam o mapa de concentrações de defesas antiaéreas na região onde estariam por meio da tela de um computador ocupando quase toda a sala.

Monsres trabalhadores distribuíam água para os pilotos e mecânicos da força aerea naquele hangar. A Mestre Piloto Tahkli chegou a reunião com papéis em mãos:

- Sentido! - Os monsres reagiram para a posição rígida. - Sentem-se. - Os monsres se sentaram nos bancos de madeira colados ao solo. - Temos mais informações. Diversos radares e aeroportos próximos de Tlanoí estão sob ataque de enxames de animais. Esquadrilhas de aviões estão interferindo nossa detecção, por meio de equipamentos eletrônicos e nuvens de insetos com alumínios.

- A criatividade dos luzies é irritante. - O piloto Fazon comentou com a sua equipe.

- Tudo indica um ataque com Jumbo 1-30. - Tahkli informou. Os sons de susto e medo. - O alvo é a destruição do portal de transporte que usamos ontem aqui em Tlanoí. A teoria principal é de sete Jumbos 1-30 vindo de diversas direções para garantir a saturação de bombardeio.

Todos os monsres temeram. A piloto Fequa se levantou:

- Um momento. Tlanoí não é quase nada importante. Por que tamanha força estaria vindo para cá?

- Tlanoí é uma pequena parte da logística, mas ainda assim a perda seria sentida nas linhas de frente. E se os luzies conseguirem aqui, vão fazer o mesmo contra outras cidades.

- Entendido. - A piloto se sentou. Rangendo os dentes. A co-piloto Kací tocou sua mão e o co-piloto Korfo o seu ombro.

- Fequa. - O piloto Fazon se inclinou a ela. - Eu e Korfo crescemos aqui também. Nossos pais devem ainda trabalhar aqui.

- E meus filhos também. - A co-piloto lembrou. - Eu não vou deixar nada acontecer com eles se eu puder com você.

- Vamos destruir estes aviões. - A piloto respirou fundo.

A mestre piloto esperou os monsres se acalmarem antes de continuar:

- Se os inimigos entrarem na cidade, temos que destruir imediatamente. Nossas defesas consistem de caças como nós, mísseis e artilharias antiaéreas e Supercolossos especializados como que Udorne vai ficar perto. Com toda a interferência teremos dificuldades de encontrar os inimigos, assim como eles. Nós, caças, seremos cruciais em surpreender os 1-30. Partirmos em uma hora. Descansem e se preparem. Que a Criadora esteja com nós. Dispensados.

Os monsres responsáveis foram rápidos em reabastecer e rearmar os aviões. Os primeiros aviões a partir foram os especializados em reconhecimento, Najuchu, um radar potente na redoma murchando e expandindo sobre a fuselagem de cabine feita de vidro para um único piloto e asas finas alongadas com duas turbinas que alcançam e conectam com a cauda.

A piloto verificava os mísseis instalados debaixo das asas do seu Sukorre. Ela embarcou primeiro e esperou sua co-piloto terminasse o último beijo em seu marido.

- Você está piorando mais. A tradição de pilotos. - Fequa tentou aliviar os ânimos quando sua co-piloto entrou, ela riu um pouco.

Nada de problemas na decolagem da dupla de Sukorres. As patrulhas circulando no céu escuro sobre as nuvens em azul forte. A Luz do Paraíso pouco iluminava aquela noite. O radar embutido nos Sukorres pouco estável. A orientação se seguia por contato visual. Interferência forte nas transmissões pelo rádio.

- Rai 4. Você detecta algo a catorze horas? - Fequa perguntou a Fazon.

- Rai 3. Pouco, deve ser uma sombra. Espera. Está ficando pior o radar. As transmissões de rádio se intercalaram e fragmentaram.

- Eles estão vindo. - Ela confirmou, o radar dos Sukorres piorou.

- Todas as esquadrilhas… Esquadrilhas... - A Mestre Piloto falou pelo rádio. - A triangulação… Setes formações em direção… Centro de Tlanoí…

- Maysei aqui a… Os ognos sabem de nossa… - Uma voz masculina não identificada capturada pelo rádio.

- Devem ser os luzies. - O co-piloto Korfo teorizou.

- E ainda nos xingam. - A piloto reclamou. - Ei! lixos de luz! Saiam da nossa cidade!

- Fequa, se acalma. - Kací chamou a sua atenção.

- Nós somos daqui!... - O Maysei respondeu. - … Na construção antes de vocês existirem! … Nos expulsaram e agora estamos voltando… Destruir Tlanoí é o mais…

- Há crianças embaixo de nós! Seus assassinos! - Fequa gritou mais alto.

- Vocês não... perguntaram… - Uma voz feminina respondeu. - Vocês… Culpados pelas mortes…

- Estão desviando-se da culpa. - Fazon falou e terminou com um sorriso. - Vão nos dar trabalho quando perseguirmos eles.

- Se concentrem. - Fequa disse. - Kací. Acredito que estou ouvindo outros pilotos entraram em contato.

- Estou tentando isolar. - Kací mexia nas teclas e botões giratórias com luz interna para poder ver na noite. - Pelo menos três pares entraram em contato. Muitas hostilidades.

- Rai 3. - Fazon informou depois de ser avisado por Korfo. - Há sinais de combate a 25 horas (em relação a Luz do paraíso).

- Entendido. Rai 4. - Fequa avisou.

Artilharia antiaérea como metralhadoras gigantes, as cargas e raios de energia de Supercolossos. Mas ela notou algo de importante:

- Rai 4. Atenção. Nenhum míssil lançado do solo. São caças inimigos. Tentando esconder os 1-30. Olhos abertos.

Os olhos principais e secundários dos quatro monsres vasculhavam seus redores. Nuvens escuras, a cidade com todas as luzes desligadas abaixo. As luzes dos armamentos se multiplicavam nos horizontes longíquos. O piloto Fazon informou:

- Rai 3. O radar detectou algo na direita.

- Rai 4. Rai 3 confirma. - Fequa observou. - Está nítido. Um Najuchu está detectando perto demais.

- Combates a nossa 5 horas. - Kací informou.

- Confirmado. - Fequa avisou. Os brilhos azuis dos canhões automáticos de Sukorres, os brilhos amarelos das metralhadoras dos NiGs. Rastros de fumaça laranja ou chamas amarelas seguindo de uma nuvem longa, mísseis disparados. Duelos de seus colegas contra inimigos. As transmissões de ordens e gritos carregados de emoções bagunçaram. O grito de alguém antes do corte.

- Rai 3. Ordens? - Fazon requisitou, volume alto para Fequa puder ouvir ele.

- Subida vertical! Agora! - Ela respondeu.

O Sukorre 3 começou a subir imediatamente. Sukorre 4 o acompanhou.

- Fequa. Me avisa antes de fazer isso de novo. - Kací reclamou enfrentando a força G. A piloto respondeu:

- Me desculpe.

 Atravessaram o interior de uma nuvem, alcançando altitudes mais altas. Sairam da nuvem com rastro da água em vapor. A Luz do Paraíso visível sobre o mar de muitas nuvens. Desapareceu com o alinhamento dos Sukorres com o alvo.

- Oh não. - O co-piloto Korfo exclamou. A iluminação amarela pelas janelas da cabine de comando. Destacada na imensidão escura. A fuselagem brilhava prata escura sobe a Luz do Paraíso e pela chama azul das turbinas foguetes, duas em cada asas e uma na cauda. Os quatro monsres se sentiram como brinquedos mesmo distantes daquilo.

- Tahkli! Rai 3 aqui. O Jumbo 1-30 está no setor 80, cinquenta mil quilômetros de altitude. zero horas da Luz! - A piloto Fequa informou imediatamente.

- Asas!… Encontrado… Bandidos a 12 horas… Cuidado... - O comandante Maysei informou.

- Os luzies sabem que encontramos. - Kací avisou.

Os Sukorres continuaram a subir. Alcançando altitudes mais altas do que o Jumbo.

- Rai 4. Ataque unido. - Fequa ordenou.

- Confirmado. - O piloto Fazon respondeu.

O Jumbo mais próximo. Visível as quatro esquadrilhas de escoltas, cada uma formada por quatro NiGs. Os monsres rangeram os dentes, os aviões de turbina única embutida na fuselagem principal, cores marrom com barriga clara, formas arredondadas, asas invertidas para trás e asas verticais no topo da cauda. Os Sukorres circularam antes de uma descida à frente do inimigo.

- Acima… Dez horas. Asa 1 intercepte. - Maysei falou.

- Entendido. - A voz feminina de antes respondeu.

Uma escolta do Jumbo acelerou e subiu para interceptar. Quatro NiGs contra dois Sukorres.

- Rai 4. Aproximação agressiva. - Fequa ordenou.

- Confirmado. Korfo, preparar canhões. - Fazon falou com força na voz. Seu Sukorre acelerou em um estrondo como se as turbinas explodiram. Os NiGs se separaram. Dois NiGs dispararam um míssil cada.

- Kací. Míssil comum e míssil de longa distância. - A piloto ordenou. A co-piloto  Um dos mísseis do Sukorre 3 em direção aos NiGs, enquanto dois inimigos disparou mísseis contra Sukorre 4. As luzes azuis dos dois canhões do Sukorre 4 e as pedras verdes fumegantes das contramedidas para distrair os mísseis inimigos, como os NiGs soltaram chamas para distrair o primeiro míssil do Sukorre 3, o segundo míssil deste já em perseguição. - Evasão!

O Sukorre 3 girou para o lado. Um míssil passou direto. O NiG tinha tomado o caminho mais longo para alcança-la, lançou o segundo míssil.

- Kací! Chamas! - Fequa ordenou. As contramedidas distrairam o míssil o qual explodiu bastante próximo do Sukorre. A piloto lutou para controlar a máquina.

- Alvo abatido. - Kací recebeu a notificação do computador embutido dos armamentos.

- Sim! - Fequa ainda lutava e explodiu as turbinas para escapar dos tiros do NiG que voltava, a turbulência muito forte.

- Rai 3. Alvo abatido. - O Sukorre 4 informou e mergulhou entre os malabarismos com os outros dois NiGs. Acabou por perseguir um e o outro o perseguir. Trocas de tiros. - Tenho um na minha cauda!

- Rai 4. Suba! - Fequa ordenou enquanto ela mergulhou. Ordenou a sua co-piloto a preparar um míssil.

Os dois Sukorres em rota de colisão, ambos evadiram quase se tocando. O NiG atrás do 4 evadiu de imediato. O NiG continuou atrás de 3, suas metralhadoras não impediram o míssil contra o NiG que 4 perseguia. Este avião girou para desviar, mas o Sukorre 4 aproveitou a manobra de evasão e girou para alcançar o NiG que perseguia. A mira certeira de seu míssil.

Fequa evadiu o NiG incansável, ouvindo a confirmação do 4 que tinha abatido um NiG. Agora dois a dois. A manobra com um mergulho e subida em “V” a afastou do inimigo.

- Maysei. Asa 1 líder. Requisito reforços. - Interferência no rádio. Aquela voz feminina. Transmissão clara, aquele NiG. Na fuselagem, a pintura de uma boca enorme de tubarão em lábios vermelhos e mastigando, uma asa de borboleta preta e branca para fora. Fequa comentou a Kací sobre isso.

- Asa 3… Sa 4 apoiem Asa 1… Balísticos… Asa 2 intercepte.

- Rai 4. Evadir! - A piloto ordenou após ver as demais escoltas do Jumbo se saírem de suas posições. Como um enxame. No giro da aeronave para escapar de dois mísseis de NiGs, Fequa avistou dois mísseis balísticos subindo do solo. - Rai 4. Pro chão! Kací, segura-se!

Os dois Sukorres desceram na velocidade máxima, piruetas e chamas para desviar e distrair mísseis. Um dos mísseis balísticos tentou desviar dos ataques, dois mísseis o explodiram. Sukorre 3 enfrentou a onda de choque da explosão ao se aproximar, tentando espantar os NiGs. As almas não se intimidaram enfrentando a tensão ou tomando longas voltas para encurralar. Metralhadoras atingiram asas.

- Danos a trinta por cento na causa. Vinte e cinco na asa esquerda. Perdermos um míssil. - Co-piloto Kací informou. O caça tremia bastante.

- Rai 4. Reporta. - Fequa requereu, descendo mais para estar entre os prédios.

- Danos mínimos. Por Criadora! - Sukorre 4 pareceu ter problemas também.

- Fequa que vai fazer? - Kací perguntou.

- Agora não. - Ela respondeu. Puxou a manche para subir rápido o quarteirão de prédios a frente.

Os monsres nos telhados daqueles prédios reagiam tardiamente para o Sukorre que confundiram como inimigo, mas conseguiram preparar os lançadores de foguetes sobre  ombro e uma arma mistura de escopeta com múltiplos canos para lançar nuvens de detritos corrosivos. Um NiG desistiu da batalha por danos demais para continuar a voar.

- Nós conseguimos mais uma morte… Hu! - Ouviram o Sukorre 4.

- Rai 4. Reporta! - Fequa gritou.

- Fequa. Míssil vindo! - Kací a avisou. A manobra súbita a asas direita cortou um prédio. Fequa forçou as turbinas para se manterem. Os dois mísseis inimigos explodiram prédios próximos.

- Rai 3. Precisamos de… Korfo! Pedras! - O Sukorre 4 avisou.

- Eles estão encimaaaaaaa… - Korfo avisava.

A transmissão cortou. As duas monsras paralisadas. Alertas de mísseis as reativou. metralhadoras acertaram o Sukorre 3.

Podiam ouvir a NiG que mastigava borboleta distribuir ordens. Estava distante. O Sukorre 3 lutava para sobreviver. Os NiGs distribuidos, dificultavam a fuga das duas monsras.

- Rai 3. Você está no perimetro do portal. - Tahkli avisou.

- O que? - Fequa não entendeu. Voaram tanto?

- Os NiGs estão se afastando. - Kací viu olhando para trás. Fequa confirmou ao ver no radar.

Primeiro um clarão provocando uma escuridão como se engolisse toda luz. As duas monsras distraídas em vez para frente evitaram de se cegarem. As duas esferas se erguendo do solo com onipresença, edifícios desapareceram e desintegravam pela onda de choque. Expulsando a noite como um amanhecer violento. Tlanoí teve as suas cores durante o dia, nuvens brancas, céu azul claro naquela local. Objetos enromes caiam da barriga aberta do Jumbo 1-30 acima, suas cores pratas visíveis. O ar sumiu das narinas e bocas de Fequa, mas ele virou o manche. Os clarões subsequentes não as cegaram.

O Sukorre 3 enfrentou as forças opostas a sua existência. A pressão insuportável sobre a piloto. Os objetos explodiram no solo como as duas primeiras. O rastro de devastação provocando destruições imediatas pelas explosões ou pelas ondas de choque. Para ter certeza que nada existiria nunca mais. A saturação de bombardeio. A piloto Fequa balanceou a força e direção das turbinas para contrabalancear as forças externas. Tentando escapar da destruição multiplicante. A fuselagem da aeronave rangeu. O vidro da cabine trincou. As turbinas balançaram como se quisessem escapar da fuselagem principal. A mente de Fequa enfrentando a demanda do corpo em desmaiar. A subida ultrapassou a devastação.

- Não… - Fequa viu acima de sua cabeça enquanto o Sukorre em vertical. Outros Jumbos devastavam. A noite expulsa. As cores de Tlanoí engolidas pelas branquidões amarelados. Fazon e Korfo… Quem esteve no porto e arredores. O tanto de Tlanoí...

Ela avistou o Jumbo 1-30 que tentou perseguir. Realmente desta cidade? Não. Destruíram tudo. Mandaram todos fuder lixo. Não podem sair e poderem voltar. O manche se moveu para o Sukorre se aproximar mais rápido por detrás do Jumbo.

- Karcí. Todos os mísseis preparar. - Fequa ordenou. - Karcí! - Desespero. A co-piloto nocauteada pelas forças G. - Não.

- Há… Próximo do Jumbo… - Um grito no rádio.

Fequa supôs corretamente que era sobre o Sukorre 3. Acionou as turbinas fazendo um zumbido barulhento. O “dia artificial” das saturações de bombardeios facilitou a visualização a olho nu. Dois NiGs manobravam para se aproximar. O restante de cinco NiGs pareciam manobrar em direção ao Jumbo. Mísseis longes demais e se perderam. Metralhadoras dos dois NiGs ansiosos. Fequa manobrou rápido para evitar a barbatana da cauda do Jumbo. Tiros perfuraram a fuselagem.

- Atenção Asas. Detectamos vibrações na cauda. Inimigos em nossa seis. - Maysei informou.

- Cuidado! O ogno está muito próximo de Maysei! - Aquele NiG mastigando borboleta. Fequa avistou ao seu lado direito. O NiG subindo na vertical e manobrou em um giro para sua direção. Ela se moveu para direita, invertendo o Sukorre ao acompanhar a fuselagem do Jumbo. - Deus amaldiçoa!

- Kací! - A monsra gritou, virando a cabeça o máximo que podia. Virou o Sukorre para a posição correta. Giro violento. Kací ainda inconsciente. Fequa temia que ela tivesse morrido.

NiGs manobrando e dando voltas para tentar encontrar o ângulo correto. Algumas metralhadoras se arriscaram. A piloto monsra se aproximou de uma das turbinas foguetes da asa esquerda. Tiros de um NiG ansioso atingiu aquela turbina. Outro NiG desempenhou melhor, Fequa desacelerou para se mover para trás. Os tiros deste NiG acertaram a turbina também e manobrou rápido para evitar colisão com o Jumbo.

- Cuidado! - NiG mastigando gritou.

 A luz do “dia” acabava. Maysei ordenou:

- Atenção Asas. Preparação para saída imediata.

- Temos que destruir o ogno. - O NiG mastigando.

Fequa entendeu a mensagem. O Jumbo entraria em sua velocidade máxima, escapando de Tlanoí. Procurou alternativas enquanto os NiGs planejavam. Notou que sacudia um pouco. A proximidade do fim daquela turbina do Jumbo. Dois NiGs sincronizam para o dobro de poder de fogo. Fequa desacelerou novamente e moveu para direita. A maior turbina do Jumbo era a da cauda. O calor atravessava o vidro da cabine. Ela grunhiu tentando controlar a sua máquina. A tremedeira violenta. Vidro se trincou mais. As turbinas ameaçavam se soltar.

- Fequa! - O susto de Kací ao acordar.

- Kací! - Fequa acelerou para sair das sacudidas violentas. - Kací. Armas!

- Não temos mísseis. - Kací estranhou. Fequa grunhiu rápido, a saturação deve ter arrancado-os como quase as turbinas. - Os canhões! Prepara!

- Já pronto! - A co-piloto avisou. Os reatores e tanques dos canhões já se aqueciam.

- Vamos! - O NiG mastigando borboleta. Quatro NiGs vieram para encurra-los.

- Kací, manobra. - Fequa avisou antes de manobrar.

O Sukorre desceu escapando dos tiros. Subiu atirando o NiG que estaria vindo a sua frente. Este NiG conseguiu escapar. Outro NiG reagiu para evitar a colisão com ele. O Sukorre atirou contra o NiG que entrou em rota de colisão com a turbina. Os tiros acertaram sua turbina. A tornou em uma bola de fogo para dentro da turbina da cauda.

- Asas! O que aconteceu?! - Maysei questionou.

- Destruam o ogno! - O NiG mastigando ordenou.

O azul da turbina da cauda se tornou amarelo. O Sukorre entrou em conflito com os NiGs. O “dia artificial” terminou. As chamas da turbina iluminou. Um NiG disparou todos seus mísseis. Fequa torceu que fosse aquele caça. Mas ouviu “Parem” daquele NiG porque um míssil atingiu o Jumbo. Fequa conseguiu posição e ordenou Kací disparar. Os líquidos solidificados brilhando azul atingiram mais a turbina. A cauda explodiu. As asas deste ponto voaram. O Sukorre e NiGs se abalaram com a onda de choque. O Sukorre perdeu uma de suas turbinas. Fequa não podia controlar mais nada. Cacofonia nos rádios. A aeronave onipresente se inclinou em queda.

- Kací! Ejetar! - Fequa avisou, tocando o botão para ejetar o vidro da cabine que se esfarelou. As poltronas saltaram. O Jumbo 1-30 atingiu o solo em alta velocidade. A explosão como uma “segunda” Luz do Paraíso naquela parte de Tlanoí.


O amanhecer, a Luz do Paraíso aumentava a sua luz. O céu alaranjado mudando para azul. O oceano branco ou cinza de edifícios e ruínas empoeirados. Panos sobre as narinas e bocas. Fequa arrastava o paraquedas vermelho e carregava os mantimentos de emergência de sua poltrona. Se guiava entre as ruínas pelo paraquedas pendurado sobre um prédio arruinado pela metade. Ela torcia que fosse Kací.

Esta monsra a esperava, tinha avistado o vermelho do paraquedas em sua direção. Só podia ser ela. A poltrona dela sobre aquela ruína alta. Quando Fequa finalmente chegou. Kací correu para ela de imediato. Fequa abandonou as suas coisas. Ambas se abraçaram em força e lágrimas.

Quando elas se acalmaram, o treinamento acionou. Entenderam a situação, o que tinham suprimentos. O transponder da poltrona de Kací funcionava, elas seriam encontradas. Elas se sentaram perto da beirada da ruína. O paraquedas de Fequa serviu de cobertor a ambas coladas à parede decadente. A paisagem era a cratera enorme abrigando o Jumbo fragmentado no fundo. As duas monsras comentaram que pelo menos um Jumbo não provocaria mal. O resto de Tlanoí parecia o mesmo que no dia anterior, exceto o centro. Desaparecido nas colunas colossais de fumaça negra ou fumaça cinza escura que deixariam todos os Supercolossos no tamanho de insetos. Podia se esperar que nada sobrou.

- Olha. - Fequa avistou um Najuchu sobrevoando no céu. - Deve ter captado nosso sinal.

- Ainda bem. Vamos voltar ao Udorne. Nos encontrar com meu bebê. Ouvir Tahkli nos agradecer e honrar…

- Karcí. - Fequa a abraçou, tentando cancelar o choro. Ela queria se convencer. - Eles estão vivos. Isso é impossível. Vamos nos encontrar em breve. Vamos nos encontrar de novo com as crianças. Com novos Sukorres. Vão construir um novo portal aqui. Ou Criadora vai criar. Até lá teremos pouco a fazer e muito tempo. Você vai ter gêmeos de novo. Eu vou amar eles tanto…

Fequa chorou calada. Somente a esperança de dias melhores em breve.


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