Devaneios na Realidade - Pânico da Elite e Filmes de Desastre

Em filmes de desastre, de escopo de um grupo preso até uma cidade ou o planeta em perigo, geralmente há o clichê de que pessoas comuns se tornam saqueadores e perigosas, e/ou o clichê da pessoa rica e gananciosa. O primeiro clichê parece ser obrigatório, enquanto o segundo é considerado irreal diante dos níveis de ignorância e teimosia como de um vilão de desenho animado infantil. Mas a realidade mostra que pessoas comuns são herois e os ricos são vilões infantis e perigosos.

O podcast Behind the Bastards, de Robert Evans para mostrar a vida bizarra de monstros como o problema de flatulências de Adolf H. e sua vida sexual como incel, há um episódio dedicado a “Pânico da Elite”, um fenômeno social de quando tragédia acontece, a reação das pessoas comuns é de compaixão e ação coletiva, enquanto pânico generalizado se restringe a indivíduos ricos e autoridades, na crença que devem controlar a população.

No podcast, Robert Evans fala do caso do supermercado Ycuá Bolaños no Paraguai. O dono do supermercado, que vem de uma família com diversos negócios no interior mesmo sendo chamada de camponeses, e seu filho, ambos tiranos obcecados em adquirir dinheiro e controlar seus funcionários. A influência desta família no governo até a nível federal permitiu que eles pudessem construir seu maior complexo de supermercado que na verdade era um enorme forno esperando acontecer, com restaurantes para milhares de clientes com mau escapamento de fumaça, saídas de emergência trancadas, sem alarmes de incêndio, nenhum treinamento aos funcionários e a pintura ilegal produziu gases tóxicos. A reação dos donos com as explosões e o incêndio que chegou a fazer o piso entrar em colapso sobre o estacionamento subterrâneo foi de impedir que os clientes saíssem sem pagar e seus seguranças, treinados para seguir ordens sem questionar, fecharam e barraram todas as portas de tal forma que os bombeiros só puderam entrar ao derrubar a parede de um vizinho. Estas pessoas ricas e seus capangas se importaram em somente resgatar o dinheiro de caixas e das mãos de clientes, muitos eram mães com crianças, tentando fugir pelas janelas.

Como a convidada no episódio apontou, se tal nível de crueldade fosse em um filme, seria considerada uma péssima história. Em filmes de desastres pode haver um vilão que ignorou preocupações de segurança antes do desastre acontecer, a exemplo do prefeito no filme “Tubarão” de 1975, e pode continuar ganancioso suficiente para sacrificar ou abandonar os demais para escapar com uma quantidade de dinheiro, o exemplo que posso me lembrar é de um filme em um resort de inverno que fica enterrado por uma avalanche.

O caso do supermercado e os experimentos e estudos acadêmicos descritos por Robert Evans, mostram que pessoas ricas são menos propensas a ajudar e serem altruístas. Como um experimento com um jogo monopoly manipulado para que alguns participantes já tivesse mais e no fim estes chegavam a se gabar de suas habilidades como se eles conseguiram vencer por si próprios. Contraia o filme “Tempestade: Planeta em Fúria”,2017, onde pessoas ricas nas mais altas camadas de governo e academia se importam com o resto do mundo e o herói é um narcisista rico. A realidade mais se parece com o filme “2012”, onde um grupo de pessoas ricas se unem, usam mão de obra escrava para construir sua própria arca, usam assassinatos para esconder, assim como negam a realidade com o resto do mundo para “evitar pânico”.

No filme “Terremoto: A Falha de San Andreas”, 2015, mostra um acontecimento de pessoas saqueando um hipermercado para acumular televisões de muitas polegadas, mesmo com um tiroteio confuso acontecendo. Outra cena de um barco salvando pessoas ilhadas pelo tsunami na cidade, mas depois de um anunciamento governamental ordenando para quem tivesse barco a ajudar. São exemplos de que estão na crença que pessoas comuns sem a organização e presença do Estado em desastre, se tornam criaturas criminosas e perigosas.

Entretanto, aqui no Brasil quando houve o incêndio na boate Kiss, transeuntes se arriscaram para salvar as pessoas no prédio selado, algumas pessoas sacrificaram seus pulmões na demolição de uma parede para que pessoas pudessem escapar. E até as vítimas retornaram ao prédio para resgatar outras pessoas. No podcast é descrito que na tragédia do supermercado Ycuá Bolaños, transeuntes próximos se armaram com bastões e outros para tentar abrir a entrada principal. A reação natural das pessoas comuns é de altruísmo, salvar outras vidas e ainda continuam a salvar vidas depois da tragédia. Por isso, no filme “Terremoto: A Falha de San Andreas, 2015” teria sido mais diferente e fortalecido os temas de altruísmo e união se mostrasse pessoas comuns se unindo para se ajudarem além de seguirem o que o governo anunciava, enquanto o vilão, um empreendedor mesquinho, agia e ficava sozinho.

No filme “Daylight, 1996”, onde Sylvester Stallone tenta salvar pessoas presas em um túnel. A decisão de autoridades em sacrificar possíveis sobreviventes, para liberar o túnel mais rápido e não tiverem problema de engarrafamentos, parece ser um ponto que a história precisava ter para aumentar a tensão e urgência da história, não como algo natural para acontecer como empresas e elites exigindo que o túnel fosse liberado o mais rápido possível para parar de afetar seus lucros, como geralmente acontece. A exemplo da pandemia do coronavírus, elites e poderosos foram contra abertamente ou de formas indiretas como financiamento de pesquisas fraudulentas ou errôneas para justificar a desnecessidade de lockdowns e que colocar as medidas como inimigas da economia.

O podcast descreve o caso do terremoto de São Francisco que obliterou mais de metade da cidade. Milhares de pessoas comuns fizeram cozinhas coletivas com o que encontraram, açougues de grande porte passaram a doar seus produtos por meio de sua força de trabalho, donos de concessionárias de carros liberaram seus carros como ambulâncias, grupos espontâneos vasculharam os escombros por roupas quentes e os sobreviventes descreviam a situação como utopia. Enquanto as autoridades locais se desesperaram. O general da base militar próxima entrou em pânico. Ele pensou que devia salvar a cidade das pessoas ao reprimi-las. Ele viu o altruísmo como anarquia e ilegalmente decretou que seus soldados deviam atirar em voluntários procurando por comida. Os soldados militares acabaram impedindo as pessoas de enfrentar as chamas e estabeleceram suas próprias cozinhas onde controlavam a população como se fossem detentos. Ninguém sabe quantas pessoas foram executadas e o quanto a destruição piorou por causa da intervenção armada.

Outro caso apontado por Robert Evans são as falas e ações de autoridades e formadores de opinião da mídia durante a tragédia do Furacão Katrina que exageravam criminalidade e mortes entre os sobreviventes em que até corpos se acumulavam na estádio onde milhares se refugiavam, entretanto eram mentiras e muitas equipes de resgate feitos por voluntários tinham que esperar por escolta militar armada desnecessária. Ninguém foi repreendido ou sofreu alguma penalidade por distribuir estas mentiras. O exemplo mais forte que Robert Evans aponta é de um terremoto que aconteceu na costa de Alasca em 1952, autoridades armaram pessoas bêbadas e ignoraram em salvar pessoas dos escombros, que foi realizado por grupos espontâneos de pessoas comuns. Pesquisadores sociais financiados por militares foram investigar a organização destas pessoas que resultou em mortalidade baixa. Eles perguntaram quem disse para eles fazerem isso, todos responderam que ninguém, a população comum realizou o trabalho enquanto autoridades governamentais se prenderam em protocolos burocráticos.

Não sei se há algum filme onde as forças de segurança são o inimigo que querem impedir de salvar pessoas ou são truculentos durante um desastre ou após ele. Há uma possibilidade de histórias diferentes em filmes que fogem dos clichês e desafiar preconceitos e ideias enraizadas. Mostrar autoridades acostumadas a enviar a polícia e usar a força para resolver criminalidades e em situações de desastre agem da mesma forma, mas em proporção exagerada. Acredito que isso acontecer só se limitar a uns poucos indivíduos de caráter ruim como um soldado ou policial, mas não todo o sistema ou decisões de alto escalão. Como a série “Chernobyl, 2019” mostra a arrogância e teimosia de autoridades responsáveis pela tragédia tanto os diretores da usina que queriam o teste acontecesse de qualquer forma para serem promovidos, quanto as autoridades elevadas que decidiram pelo design defeituoso por ser barato. Os herois se sacrificaram e a ameaça de repressão de autoridades tentando suprimir a verdade como para proteger ego inflado em vez das pessoas. 

A piada recorrente no podcast é que a elite se preocupa com as pessoas saqueando comida porque ninguém está pagando com dinheiro nos prédios em chamas. A vida real mostra que pessoas comuns não se tornam em monstros, a multidão tenta salvar as pessoas, enquanto as decisões de uma única pessoa e poderosos que ordena o fechamento de saídas e manda soldados armados para bater em pessoas procurando por comida.


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